Voleibol como metodologia convencional de ensino na Educação Física.
A metodologia convencional de ensino está baseada na
aprendizagem sistematizada das partes do jogo, que são chamadas de fundamentos.
Desta forma, as habilidades motoras servem como instrumentos para a execução
dos gestos técnicos específicos da modalidade. O domínio dos fundamentos do
jogo caracteriza a proficiência do atleta, com aqueles que têm uma maior
habilidade nos fundamentos sendo considerados, normalmente, melhores jogadores.
O aprendizado dos fundamentos e de todos os aspectos que
envolvem a formação de um jogador de voleibol deve partir das ações motoras e
fundamentos considerados mais fáceis para os mais difíceis. A sequência
pedagógica adotada pelo professor deve contemplar os alunos com atividades
primeiramente de execução e entendimento simples, para após o aprendizado
destas criar situações mais complexas. O professor deve atentar ainda para o
respeito ao grau de desenvolvimento do aluno, respeitando o estágio de
aprendizado que o mesmo se encontra.
De acordo com a FIVB (Federação Internacional de Voleibol),
os fundamentos do jogo são: saque, recepção, levantamento, ataque, bloqueio e
defesa (RIBEIRO, 2004). Cada um destes fundamentos aparece de forma isolada,
porém em conjunto sintetizam o que acontece em um jogo de voleibol. O
praticante de voleibol vai utilizar estes fundamentos por toda a sua vida
esportiva. Portanto, para o ensino dos fundamentos devemos trabalhar com toda a
calma e critério, não podendo haver atropelos e queima de etapas. As
habilidades mal aprendidas e os vícios decorrentes desta aprendizagem
proporcionam um rendimento ineficaz (BIZZOCHI, 2004).
Todos os outros recursos e ações empregados em um jogo de
voleibol são considerados elementos, que dão suporte a realização dos
fundamentos. Os principais elementos de um jogo de voleibol são: o toque, a
manchete, os deslocamentos e as posições de expectativa.
O aprendizado da técnica das ações de jogo pode ser
realizado através dos métodos analítico ou global. O método analítico consiste
em dividir o fundamento em partes e treinar cada parte separadamente, de forma
que a complexidade das ações seja amenizada, tornando os erros mais fáceis de
serem corrigidos. Já o método global o fundamento é trabalhado como um todo,
economizando tempo e treinando ações mais similares as encontradas em jogo
(SILVA, 2004).
A literatura diverge quanto ao método mais indicado para ser
utilizado com iniciantes. Sugere-se que as atividades sejam conduzidas através
do método analítico quando as características de organização e complexidade
forem maiores, utilizando o método global para as atividades mais simples
(ZACARON e KREBS, 2006).
A sequência de ensino das ações do jogo é um tema que
provoca divergências. Existem dois modelos que são mais utilizados, cujas
características veremos a seguir.
* Método dinâmico paralelo: Entende que os fundamentos devem
ser aprendidos na sequência que aparecem no jogo. Tem como principal
dificuldade a necessidade de associação entre as ações de jogo. Nesta proposta,
os alunos aprenderiam o saque, posteriormente a recepção, o levantamento,
ataque, bloqueio e por fim a defesa. Os críticos desse modelo apontam para uma
dificuldade no encadeamento das ações, que se torna fundamental para o sucesso
na aprendizagem através desse método (BIZZOCHI, 2004).
* Método progressivo associativo: Preconiza que os
fundamentos sejam agrupados em função da postura do corpo adequada para a sua
realização. Divide as partes do jogo em grupos: grupo 1: posição de
expectativa, deslocamento, toque, manchete, saque por baixo; Grupo 2: Ataque, bloqueio,
saque por cima; Grupo 3: defesa, rolamentos, mergulho e recepção. Essa
sequência permite a aplicação e o agrupamento dos fundamentos de mecânica
semelhantes. Essa proposta caracteriza-se ainda pelo fato de que cada
habilidade deve ser aprendida e executada a contento, para somente depois
passar para o aprendizado da habilidade seguinte (BOJIKIAN, 2003).
Ambas as metodologias são utilizadas por um amplo número de
profissionais e parecem oferecer bons resultados. Não cabe aqui discutir qual
seria a melhor delas. Provavelmente, a melhor alternativa varia de acordo com
as características do professor e do grupo de alunos, com o professor devendo
optar por aquela que ele consiga trabalhar melhor.
A estruturação do processo pedagógico de ensino normalmente
é dividida em fases. Uma proposta dessa divisão seria (BIZZOCHI, 2004;
BOJIKIAN, 2003):
1 – Apresentação da habilidade: É o primeiro contato do
aluno com a ação a ser realizada. A demonstração da habilidade deve ser feita
com a máxima qualidade possível. O Professor deve ser claro o bastante, para
que não fiquem dúvidas no aluno quanto à técnica de execução. É interessante o
enriquecimento da demonstração através de vídeos e execução feita por atletas
de alto nível. Quanto mais atrativas forem as atividades, maior a possibilidade
de êxito, já que o aspecto motivacional é fundamental na aprendizagem.
2 – Importância do aprendizado e aplicabilidade no jogo:
Alguns fundamentos não despertam muito interesse no aluno. Por exemplo,
culturalmente no Brasil os princípios defensivos do jogo provocam menos
interesse do que os princípios ofensivos. O professor deve criar situações que
demonstrem ao aluno a importância da ação no contexto do jogo e a sua
utilização em momentos e situações específicas que acontecem dentro de um jogo.
Também nesta fase é aconselhável a utilização dos recursos propostos no item
acima.
3 – Sequência pedagógica: É um procedimento metodológico que
fraciona o movimento em partes, com uma posterior associação progressiva dessas
partes, até que chegue a execução completa. É prudente que só se acrescente
partes quando a anterior já estiver incorporada ao acervo motor do praticante.
As novas habilidades são construídas sobre as habilidades adquiridas
anteriormente.
4 – Exercícios educativos: São exercícios específicos para a
correção de gestos motores inadequados que, por ventura, surgirem ao término de
uma sequência pedagógica. Geralmente são administrados em partes, visando
corrigir especificamente a parte do movimento que não está sendo executada
corretamente.
5 – Exercícios formativos: Exercícios que visam corrigir
imprecisões nos gestos técnicos, causadas por uma formação física inadequada
perante a especificidade das capacidades motoras necessárias para a realização
da habilidade.
6 – Automatização: É a fixação da execução do movimento no
nível neuromotor. Considera-se que uma habilidade motora foi aprendida quando
esta é incorporada ao acervo motor do aluno. Independente do grau de
dificuldade da habilidade, depois de aprendida ela passa a ser natural para o
indivíduo. A repetição é o principal meio para a fixação do movimento, desde que
seja realizada com alto nível de eficiência.
7 – Aplicação: Nada mais é do que a utilização das ações
aprendidas na realidade do jogo, não sendo necessariamente o jogo com as regras
oficiais, mas sim todas as manifestações possíveis de jogo recreativo e/ou
pré-desportivo. O professor deve ter sensibilidade de modo que a transferência
do aprendizado dos gestos anteriormente automatizados seja gradativa para as
situações de jogo. Em relação às estratégias do tipo de intervenção prática a
ser adotada, temos a seguinte divisão:
Prática concentrada: Nesta situação, o aluno executará
diversas repetições de uma determinada ação de jogo, para somente a seguir
passar para o treinamento de outra ação. Esta prática pode ser subdividida em:
prática concentrada em bloco, onde serão feitas repetições do mesmo exercício
por um determinado tempo antes de passar para outro tipo de exercício. Como
exemplo, podemos citar uma situação em que o aluno está treinando o fundamento
saque, e o professor determina que ele utilize apenas saque longo, para depois
de terminar esta tarefa passar a utilizar apenas saque curto; prática
concentrada variada, onde serão realizadas dentro do treinamento de uma mesma
ação de jogo recursos técnicos diferentes. Utilizando novamente o saque como exemplo,
dentro do treinamento o professor orienta para que o aluno use toda a
variabilidade possível alternando saque curto, longo, em diagonal, na paralela,
com trajetória diferente em relação à rede, etc.
Prática intercalada: Nesta proposta, o aluno durante o
treinamento realiza diversas ações em sequência, não repetindo a execução do
mesmo fundamento ou elemento. Como exemplo, podemos citar um exercício onde o
aluno efetue um saque; a seguir executa uma recepção; um levantamento; um
ataque; e recomeça toda a sequência de procedimentos.
Os pressupostos que sustentam a prática concentrada são
pautados na ideia que a repetição sistematizada promoverá a automatização do
movimento, o que acarretaria em um desempenho mais satisfatório na execução do
gesto técnico. Já a prática intercalada, por necessitar constantemente de uma
reorganização do programa motor inerente a cada fundamento, parece promover um
padrão de desempenho mais duradouro.
Em todas as situações de treinamento mencionadas, é
importante ressaltar que o professor deve ter o “feeling” necessário para
estimar o tempo de atividade ideal. A atenção é um importante mecanismo da
aprendizagem, e um aluno só conseguirá manter seu foco voltado para a prática
da atividade durante determinado tempo (SCHMIDT e WRISBERG, 2001). Sendo assim,
o professor deve planejar seu treinamento de forma que a aula seja contemplada
com atividades variadas e que desperte o interesse do seu aluno.
Neste contexto seria interessante pensarmos em atividades de
aquecimento com movimentações semelhantes às do voleibol. Através destas,
podemos desenvolver algumas capacidades importantes para os alunos, além de
promover brincadeiras direta ou indiretamente relacionadas ao voleibol. Quando
na aula estiver previsto o aprendizado de uma nova ação de jogo, esta deve ser
realizada logo no início da parte principal da aula, pois os alunos estarão
descansados, tendo uma maior concentração e atenção para a precisão requerida
pela habilidade (BOJIKIAN, 2004). Estas estratégias otimizam o tempo que temos
disponível para as sessões de treinamento, sem desgastar excessivamente o
aluno.
O tempo total da atividade e a quantidade de sessões
semanais de treinamento são outros aspectos que devem ser controlados pelo
profissional. Atividades extenuantes favorecem o aparecimento da fadiga. Em
situações fatigantes o aprendizado não ocorrerá de forma adequada, havendo
desperdício de tempo e a possibilidade de uma fuga do aluno das sessões de
treinamento. Lembrando que todo o tipo de atividade deve ser adequado à
realidade dos alunos, uma proposta de divisão do processo de aprendizagem,
feita em função da idade e do nível de desenvolvimento dos alunos, com a
sugestão de algumas das possíveis atividades seria a seguinte:
1ª. Etapa. Fase de desenvolvimento: idade entre 7 e 10 anos
Desenvolver:
- Todas as formas de deslocamento
- Habilidades básicas e combinadas
- Variações nas formas de rebater
- Jogos adaptados de pegar e rebater
- Adaptação e familiarização com a bola
- Domínio da bola parado e em movimento
2ª. Etapa. Fase da iniciação: idade entre 10 e 12 anos
Desenvolver:
- Capacidade espaço-temporal
- Habilidades motoras adaptadas ao voleibol
- Combinação das habilidades desenvolvidas na etapa anterior
- Familiarização com a quadra e a rede, mesmo que não sejam
nas medidas oficiais.
- Atividades com lançamento da bola por baixo e por cima da
rede.
- Jogos adaptados sobre a rede.
3ª. Etapa. Fase da aprendizagem: idade entre 12 e 15 anos
Desenvolver:
- Aprendizagem das habilidades específicas do voleibol.
- Ênfase a lapidação da execução dos fundamentos.
- Encadeamento das ações básicas de jogo.
- Aperfeiçoamento das formas de jogo.
- Capacidade de raciocínio tático
- Capacidade de elaborar estratégias perante as situações de
jogo
4ª. Etapa. Fase do aperfeiçoamento: idade a partir dos 15
anos
Desenvolver:
- Combinação dos fundamentos.
- Maior discernimento tático.
- Formas mais elaboradas de jogar.
- Início da definição da função que será exercida.
- Noções de divisão de responsabilidade.
Vídeo Tutorial dos Fundamentos Básicos do Voleibol:
Referencia Pesquisada:
Site: Porta da Educação, Voleibol como metodologia
convencional de ensino, disponível em:
https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao-fisica/voleibol-como-metodologia-convencional-de-ensino/40928#,
acesso dia 11 de Novembro de 2020.s biológicas e cronológicas podem variar.